Antropologia Organizacional

Enquanto as maneiras de ser e de agir de certos homens forem problema para outros homens, haverá lugar para uma reflexão sobre essas diferenças, que, de forma sempre renovada, continuarão  a ser o domínio da antropologia€[1]

– Claude Levi-Strauss

Para muitas pessoas, cultura organizacional diz respeito àquele quadro de “missão, visão e valores” que fica atrás da cadeira do CEO numa empresa. Não. A cultura organizacional é constituída pelas dezenas, centenas, milhares de pessoas que sustentam uma organização – e inclusive a cadeira sobre a qual o CEO se senta. É essa teia invisível de significados compartilhados top down e bottom up que se interrelacionam num sistema aberto de trocas que vai tecendo uma forma de ser e ver o mundo. Cultura é sobre pessoas. Uma empresa é feita de pessoas. 

Para a antropologia – a ciência que estuda a cultura humana – a cultura organizacional é algo mais orgânico e profundo – conforme a antropóloga Livia Barbosa, o conceito de cultura abre caminho para uma discussão  mais profunda, que é o peso da dimensão simbólica nas organizações e nas diferentes formas de gestão[2] Isso significa entender que as lógicas que regem os comportamentos de lideres e colaboradores nas empresas não estão sujeitos apenas ao pragmatismo dos processos operacionais e e de alcance de metas, a cultura é a teia invisível que faz as pessoas verem o mundo como vêem e agir da forma que agem. E essa teia é formada por significados, que incorporados num processo lento e contínuo, constituem o eixo que faz todo o sistema se mover internamente de uma determinada forma – a forma daquela empresa. E são esses significados que tornam uma empresa uma estrutura viva, a partir da própria  etimologia do termo organismo – organização.  Pessoas operando em constante orientação (e articulando com) significados, em prol de interesses conhecidos, ou emergentes, que engajam ou afastam, que aumentam a produtividade, ou que bloqueiam fluxos de comunicação e de processos.

A organização é, sobretudo, uma produtora de significados, tanto para a sociedade de consumidores, quanto para seus colaboradores e estes significados produzem a narrativa que dá sentido às ações de lideranças e colaboradores.

Assim como numa comunidade de bairro, na empresa diferentes grupos se constituem a partir da divisão social de funções (estrutura formal) ou, organicamente, pela afinidade de interesses eletivos (áreas internas, gostos, classes sociais, lifestyle, etc), sendo os primeiros agrupados pelas funções desenvolvidas e os segundos, muitas vezes mais coesos e fortes, por valores compartilhados, formas de ver o mundo, ou mesmo como reação a políticas da organização (como sindicatos), o que cria união em torno de interesses a serem defendidos.

A Antropologia Organizacional Aplicada

Na Antropologia Organizacional Aplicada, utilizamos a imersão cultural (etnografia) para mapear diferentes grupos, significados e subculturas existentes na empresa. Por meio da etnografia e da análise do discurso, mapeamos a cultura top down (do topo para as margens), ou as diretrizes e princípios estabelecidos pela organização e toda a sua estrutura de conexão com colaboradores e lideranças e a cultura bottom up (das margens para o centro), os grupos que constituem diferentes culturas emergentes a partir de interesses, afinidades, ou background em comum.

A etnografia nos permite imergir na estrutura de significados e práticas produzidos da organização e compreender como diferentes grupos se relacionam com estas dimensões, evidenciando conflitos velados, dissonâncias, bloqueio de processos, e, ao mesmo tempo conseguimos dar luz a soluções que se encontram latentes junto aos diferentes grupos investigados e que podem gerar grandes benefícios para a organização.

A antropologia organizacional atinge camadas de relações causais, de “por quês”, de questões de difícil solução – pois sua origem não é vista a olho nu, de mapeamento de conflitos e de descoberta de ativos que pesquisas qualitativas não acessam, porque as pessoas “não sabem o que sabem”, não expressam em respostas de questionários, ou pesquisas de clima, aquilo que para elas mesmas não é perceptível, porque é movido pela teia invisível da cultura, um tecido que move pessoas sem que elas se dêem conta, mas que é mapeado e decodificado por etnografia, descrição densa e análise antropológica de dados.

valeria

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