
Etnografia Digital Aplicada
Um dos grandes problemas da viveÌ‚ncia contemporaÌ‚nea, sobretudo para o marketing, eÌ que a fluidez e a superficialidade, que vieram no bojo da inovação tecnoloÌgica, projetaram a estrutura do marketing digital como um avatar por si soÌ, apenas voltado ao futuro como base no presente, sem buscar entender as diferenças e as interseções entre o real e o virtual para alicerçar suas decisões empresariais, com exceção das empresas que investem no entendimento do universo digital, dos motivadores que engendram decisões de consumo e das formas de posicionamento de produto, tal qual a Ikea, a Apple e, no Brasil, a Tecnisa. Grande parte das empresas ainda estaÌ â€œinvestindo no escuroâ€, tentando companhar a velocidade da tecnologia e sua influeÌ‚ncia no mercado sem entender o que realmente acontece no real que influencia o digital e vice-versa.
O que muitas empresas ainda não perceberam eÌ que quem paga a conta do produto comprado na web e o internauta que assiste a um viÌdeo bizarro fascinante e que fica engajado pela ludicidade da gamificação e do transmedia storytelling. Ele eÌ uma pessoa real, cujas estruturas mental e emocional baÌsicas estão calcadas em valores que determinam visão de mundo, a qual alicerça comportamentos e loÌgicas de seleção, e que esses valores não mudaram com a rapidez e a fluidez da web, mas estão em processo de cognição, conscientização e incorporação in progress, razão pela qual empresas se perguntam “eu investi milhões num superultraprojeto futurista de marketing digital desenvolvido pela ageÌ‚ncia do momento e não houve engajamento nem conversão do target. Como!? A resposta: sua empresa não entendeu a Realidade Interseccional.
Pesquisar a Realidade Interseccional eÌ entender o sistema em que se constituem essas duas realidades, a presencial e a on-line, via internet, que agora inseparaÌveis, interconectadas, constroem uma forma de perceber, de enxergar e de estar no mundo.
Para o mercado, eÌ preciso entender cada ponto de contato da Realidade Interseccional para poder compreender os coÌdigos de valores que estruturam o olhar sobre marca e produto, bem como o que define os processos de escolha do consumidor, pois, embora a rede seja o espaço da viveÌ‚ncia relacional de exposição, de aspiração e de imaginaÌrio, estes são elementos pragmaÌticos do real que, muitas vezes, não são expostos na vida digital e influenciam a tomada de decisão, como as condições econoÌ‚micas reais do comprador de produtos que diferem dos likes, da exposição de gostos e das paÌginas “trackeadas†por web analytics, que representam apenas o aspiracional, mas não a compra de fato.
Se analisadas pela Antropologia Digital, essas questões socioculturais e comportamentais, que se encontram para aleÌm do monitoramento de redes sociais por analytics, podem ser trabalhadas estrategicamente para converter aspiração em possibilidade de compra ou, ainda, podem identificar relações entre pessoas e entre pessoas e marcas expostas em redes sociais digitais como apenas estrateÌgias de manipulação do jogo social entre internautas – sem intenção real de compra.
Para se entender o comportamento do consumidor que vive hoje a experieÌ‚ncia com marca e produto on-line, eÌ necessaÌrio entender quais são os motivadores e limitadores do off-line para que se construa qualquer estrateÌgia minimamente eficaz, caso contraÌrio, empresas e marcas padecerão da mesma ingenuidade dos usuaÌrios que acreditam em tudo o que eÌ compartilhado de maneira on-line, com a diferença do prejuiÌzo de investimentos milionaÌrios e perda de market share.